A campanha da Fraternidade/2011 e o compromisso social
“Todo planeta é um grande organismo vivo!”
Na Igreja Católica Romana no Brasil corremos o risco de no fim da Quaresma também finalizarmos a Campanha da Fraternidade (CF). Nem sempre se faz mais referências à CF do ano em curso ou se entoam seus cânticos nas celebrações. Tem-se a impressão de que tal movimento, o da campanha, seja restrito somente àquele período de quarenta dias da quaresma. Mas, o que se deseja é que a força da CF se estenda durante o ano todo em curso e adentre os outros, pois o que vemos é que as reflexões de cada ano excluem a reflexão do ano anterior. Daí a importância de se enfocar o aspecto somatório e não excludente de cada tema. Imaginem o tema importante que é o da ‘Fraternidade e Vida no Planeta’, foi abordado na CF/2011 e já nem se fala mais nas missas e nas reuniões.
A CF/2011 trata de um tema abrangente e provocador. Chama à reflexão não só os cristãos e cristãs católicos, mas toda pessoa de boa vontade que tem consciência de sua ação transformadora na realidade em que se encontram. A questão ecológica não é problema que evoca somente a ação cristã, mas todas as pessoas que possuam uma visão para além de seu ‘quintal’. Todas as pessoas que tem uma visão mais ampla da realidade que os cerca sem comportarão corretamente na defesa não só do meio ambiente, mas do ambiente inteiro. Isto é, a responsabilidade do cuidado está para além do meio que se ocupa ou se utiliza cotidianamente.
Saber cuidar do ambiente é uma graça e uma arte. É graça por ser dada por Deus aos seres humanos a consciência do saber cuidar de onde se habita. O óbvio, talvez não para todas as pessoas. A graça do saber cuidar é colocada em nosso coração como responsabilidade social, para além do grupo religioso e/ou confessional ao qual se possa estar filiado (Cf. Mateus 25, 31–46). É algo que transcende nossa escolaridade, classe social ou outros aspectos personalizados. É como que uma imposição que se coloca à nossa vivência no mundo. O saber cuidar como graça deve ser acolhido como entendimento e resposta aos apelos de Deus à nossa consciência de humanos que habitam juntos esse planeta, nossa casa comum. Quando cuidamos de alguém ou do ambiente que nos rodeia estamos respondendo concretamente à palavra que nos chega aos ouvidos e tocando nosso coração, transforma nossas atitudes.
Já a arte de saber cuidar se dá através dos diversos meios dos quais dispomos, socialmente falando, e que também são referências para uma prática concreta de amor a Deus e aos irmãos e irmãs (Cf. Mateus 25, 31 – 46). E mais uma vez a arte de saber cuidar depende da graça. É magnífico concluir que a graça do saber cuidar é uma arte vivida por quem se deixa iluminar pela palavra de Deus. As CFs não são aspectos isolados da vida eclesial e nem dizem respeito somente a grupos de pessoas fundamentalistas das igrejas cristãs comprometidas com o ecumenismo. Mas, são questões importantes e que devem ser levadas à reflexão a todos os âmbitos da sociedade para discussões e resoluções dos problemas levantados.
A CF/2011 com seu tema abordando questões da ecologia está em sintonia com todas as questões relevantes e discutidas nos mais distintos ambientes nacionais e internacionais. É uma preocupação global. Cremos que nos próximos anos será importantíssimo o debate e tomadas de decisões mais eficazes com resultados mais contundentes para a natureza e consequentemente, para a humanidade. A natureza já dá sinais de seu esgotamento e muita gente ainda não despertou sua consciência para a problemática que estamos suscitando com nosso modo de viver desorganizado e despreocupado com a vida, o qual já está nos trazendo problemas seríssimos. Se não forem tomadas as devidas precauções desde o mais humilde ser humano ao líder mais poderoso da humanidade toda a natureza viva como um organismo doente sofrerá as conseqüências desastrosas.
Portanto, a sociedade enquanto organismo maior espera dos cristãos e cristãs muito mais do que uma proposta teórica, mas sim uma ação concreta que aponte caminhos e resolva as questões ambientais que nos cercam. E que estão associados à questão da melhor qualidade de vida para todas as pessoas. É sempre bom fazer memória das palavras de Jesus sobre o dom da vida: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância!” (Jo. 10, 10). Eis a nossa missão...
Pe. Gilberto Orácio de Aguiar, autor desse texto, é do clero de Salvador cursando o doutorado em Ciências Sociais na PUC/SP. Email: mandiba@hotmail.com